Freud (1913), no texto O início do tratamento, apresenta algumas recomendações importantes sobre como estabelecer um “acordo” entre o psicólogo/analista e o paciente. O primeiro ponto relevante é sobre o período de ensaio, isto é, por mais ou menos uma ou duas semanas o psicólogo e seu paciente farão um “teste” para, então, decidirem se irão iniciar o tratamento.
É nesse momento que nós, profissionais, realizamos as “entrevistas iniciais”. Estudos indicam que essas entrevistas podem se prolongar por um tempo, mas não de forma demasiada. Essas entrevistas permitem que o profissional levante algumas hipóteses sobre o funcionamento psíquico do paciente. É recomendado que se dê um retorno ao paciente, indicando se o tratamento se dará ou se será necessário um encaminhamento. Por outro lado, o paciente também pode verbalizar se após este ensaio está de acordo com o início do tratamento.
Firmado esse acordo, Zimerman (2004) destaca a importância do contrato (físico ou simbólico). Nele deve estar indicado o tipo de tratamento recomendado (psicoterapia ou análise), o número de sessões semanais, tempo de duração das sessões, horários, honorários, faltas, férias, entre outros.
A transferência começa a se estabelecer (ou não) já nas entrevistas iniciais, mas, Zimerman (2004) orienta que se tenha cautela quanto às interpretações nesse período. Algumas pontuações serão bem-vindas, até para acolher a angústia do paciente, mas deve-se evitar ao máximo as interpretações psicanalíticas. Freud (1913, p. 122) traz essa mesma recomendação: “[…] deixamos principalmente o paciente falar e não lhe prestamos esclarecimentos além daqueles imprescindíveis à continuidade da sua narração”.
Dessa maneira, para o bom andamento da análise e resultados positivos no processo terapêutico, esse acordo precisa ser cumprido por ambas as partes. É esse pacto, inclusive, que auxilia a manutenção da própria transferência.
Referências:
Freud, S. (1913/2006). Sobre o início do tratamento. In J. Salomão (Trad.), Obras completas (Vol. 12, pp. 139-158). Rio de Janeiro: Imago. (Publicado originalmente em 1913).
Zimerman, David E. Manual de técnica psicanalítica uma revisão. 2004. Artmed.
Autor(a): Francielle Sabatine
Psicóloga, mestra e doutoranda em psicanálise, com experiência na clínica psicanalítica e no ensino superior